top of page

Golpe de Sorte em Paris

Ensaio para uma "saída à francesa"

Por Nathalia Macedo


Woody Allen está prestes a estrear seu mais recente filme, Golpe de Sorte em Paris, que pode ser o último. Depois de sua aclamada trajetória, que inclui obras como Annie Hall (1977), Manhattan (1979) e Hannah e Suas Irmãs (1986), há grandes expectativas para este lançamento. O filme não apenas causou uma excelente impressão no público do Festival de Veneza, ano passado, como também gerou um burburinho considerável entre críticos e cinéfilos. Na nova produção, Allen vai nos levar às ruas de Paris, criando uma experiência imersiva e, por diversas vezes, podemos “caminhar” junto com os personagens em um belo parque ou bosque da capital da França.


A trama gira em torno da nossa protagonista Fanny (Lou de Laâge), uma mulher de 30 anos, inteligente e atraente, que se encontra no seu segundo casamento. Fanny trabalha com leilões de arte e mora com o marido Jean (Melvil Poupaud), em um elegante apartamento situado num bairro nobre de Paris. Ambos parecem extremamente apaixonados, apesar de Fanny, com frequência, se sentir desconfortável com a superficialidade e as expectativas da alta sociedade na qual está inserida.


A vida aparentemente estável de Fanny toma um rumo inesperado quando ela se depara com Alain (Niels Schneider), um antigo colega de escola que expressa um interesse imediato em vê-la novamente. Esse primeiro reencontro deixa Fanny abalada, e não é à toa, considerando o charme irresistível de Alain vindo em sua direção, o que torna para nós espectadores muito compreensíveis as decisões seguintes de Fanny. Nos encontros seguintes, ficaremos divididos entre torcer pela estabilidade  da moça e ansiar pela paixão e espontaneidade que Alain desperta.


Logo, esse amor de espírito juvenil levará Fanny a questionar seu casamento e amor pelo marido. O comportamento ciumento e controlador de Jean, que antes poderia ser visto como protetor e até confundido com amor, agora parece sufocante em comparação com a liberdade e a emoção que ela experimenta ao lado de Alain.


Apesar do aparente clichê romântico, o filme revela-se um thriller excitante. Nas entrelinhas, percebemos que não se trata apenas de uma história comum em que dois antigos conhecidos se reconectam e se apaixonam. O suspense cresce à medida que a história explora até onde as pessoas estão dispostas a ir em nome do amor e a complexidade de realmente conhecermos aqueles que estão ao nosso lado.


Esse é o segundo filme de Allen rodado inteiramente na França, depois de Meia-Noite em Paris (2011). Grande parte das filmagens ocorreu durante o outono, o que destaca ainda mais o charme e a beleza da cidade, tornando a direção de fotografia do mestre Vittorio Storaro inesquecível. A falta de cenas explícitas é compensada por imagens elegantes e sugestivas, que transmitem perfeitamente o calor e o aconchego de um amor vivido num lugar tão mágico como Paris.


Se tratando de um thriller, a trama reúne todos os elementos indicadores de um iminente crime passional, e pode até parecer que ela seguirá um caminho previsível. Mas seremos surpreendidos, mais uma vez, com um final irônico e até cômico, umas das especialidades do diretor, que inova também na escolha do elenco, trazendo desta vez atores franceses extremamente talentosos como protagonistas. Isso beneficiou ainda mais a obra, especialmente pela performance envolvente de Lou de Laâge que incendeia a primeira metade da história, enquanto Valérie Lemercier, como a mãe de Fanny, está fabulosa no seu papel, deixando o público extremamente ansioso pelas decisões que ela tomará ao longo da narrativa. E se, de fato, Woody Allen decidir que Golpe de Sorte em Paris será seu último trabalho como diretor, por ironia ou mera coincidência, ele escolheu uma “saída à francesa”, literalmente.


Confira o trailer




Golpe de Sorte em Paris | Estreia 19.09.2024 | Dir. Woody Allen | França | Suspense | 93 min

Comments


bottom of page