Por Vitória Gomes
O livro Holocausto Brasileiro, de Daniela Arbex, foi publicado em 2013 e trouxe à tona a triste história do genocídio que ocorreu no Centro Hospitalar Colônia, em Barbacena (MG), de 1903 até meados dos anos 1980. O local foi comparado aos campos de concentração nazistas da Segunda Guerra Mundial.
Estima-se que 60 mil pessoas morreram no Colônia, nos anos em que ele esteve em atividade. É nítida a falta de critério para as internações. Os pacientes eram, principalmente, minorias da sociedade que eram deixados lá como indigentes, sem dignidade nem após a morte, visto que seus corpos eram vendidos de maneira ilegal para universidades pelo Brasil.
Trazendo uma temática ainda atual, o diretor e roteirista André Ristum aborda no seu novo filme Ninguém Sai Vivo Daqui a importante discussão sobre o tratamento em hospitais psiquiátricos, inspirado no livro e baseando-se na história real do Colônia, porém, com personagens ficcionais.
O longa tem como protagonista a jovem Elisa, interpretada por Fernanda Marques, que é internada à força pelo seu próprio pai após engravidar do namorado, vítima, como tantos outros, de uma internação injustificada. Lá, ela encontra outras pessoas que também não possuem motivos justos para estarem presos ali e, juntos, eles vão unir forças para escapar dos horrores do hospício.
O ambiente é hostil e todos sofrem abusos diversos. Desde tomar banho com jatos de água que machucam o corpo, até terapias de choque. Esses métodos inadequados de tratamento chamam muito a atenção no filme, nos fazendo refletir sobre os abusos que as pessoas sofreram em tratamentos psiquiátricos no Brasil, e nos colocando para pensar até que ponto conseguimos humanizá-las nos dias de hoje, mesmo após a reforma psiquiátrica que tivemos em 2001.
O filme traz interpretações de destaque, principalmente pela jovem interpretada por Rejane Faria (Marte Um, 2022), que carrega uma trajetória cheia de emoção. E construindo uma besta à altura do pesadelo em que se encontra, temos o personagem vivido pelo ator Augusto Madeira.
Ninguém Sai Vivo Daqui optou por uma adequada fotografia em preto e branco, comandada por Hélcio Nagamine, estética que complementa bem o cenário, a dramatização da narrativa e a representação de personagens “sem vida”. Nos cinemas a partir do dia 11 de julho, o filme promete ser uma obra marcante do cinema brasileiro atual, com uma impactante e emocionante jornada em um capítulo sombrio e pouco abordado na história do País.
Confira o trailer
Ninguém Sai Vivo Daqui | Estreia 11.07.2024 | Dir. André Ristum | Brasil | Drama | 85 min
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